16 de nov. de 2011

Marcas em Brasa

   Quero um caderno de promessas, quero escreve-las uma a uma em cada página e depois solta-las no vento. Acho que seria muito mais apropriado do que gravar em minha pele e depois ter que me submeter a brasas quentes para apagar as marcas que são deixadas. Cansei de falar de amor, de sentimento, porque no fim acho que fiz quase tudo certo, apenas errei quando coloquei sentimentos, já dizia Clarisse Lispector a respeito disso.
   Quantos cadernos eu não completaria com cada letra preenchida de esperanças que eu ouvi. Não, aquelas palavras de pessoa iludida já se foram, chega-se num ponto em que eu sinto sua falta, porém não te amo mais. É o costume, aquela coisa que fica tão rotineira que a gente nem da mais tanta bola sabe?! Pensamentos tão banais sobre coisas que já foram essenciais que passam despercebidas durante o dia.Ou talvez lá no fundo eu ainda ame, eu ainda sinta, ainda queira acreditar na babaquice que me contavam de pequena com castelos, príncipes e amor, ah o tão desejado e desesperado amor. Coisinha mais feia né! Já vi gente matar, se odiar, virar as costas a um amigo, tudo em nome dele. E mesmo assim as pessoas ainda o buscam tão freneticamente  que se esquecem de que ele sozinho não se sustenta.
   Como algo que era pra ser tão belo, puro e real não consegue se manter vivo apenas por existir? É que na verdade não há, uma coisa tão praticamente inatingível não deveria ser posta como uma coisa que se deve ter na vida, pergunte a qualquer casal a mais de quarenta anos juntos e eles responderão que o segredo desse "amor" é o companheirismo, a amizade e a confiança. Essas sim se sustentam sozinhas sem precisar de adereços, endereços, preços, etc. Tantas páginas a escrever, tantas marcas a apagar. Acho que a razão está toda nisso, não prometer, não querer, apenas viver e deixar-se viver. A vida nada mais é do que um jogo cruel, onde teremos que brincar e usar quem conhecermos porque ninguém disse que seria fácil ou justo jogar com tantas pessoas junto, sem conhecer bem nenhuma delas.

Beijos
Natália Moraes Costa