17 de jan. de 2011

"Meu Pedaço do Paraíso" / parteIV -FINAL

Sem muitas enrolações, segue abaixo o final da minha história. Ficou meio grande mas não quis diviri em duas partes, então larga de preguiça e vai ler :)

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- E então o que você quer fazer hoje?
  A voz dele era suave e doce, eu pensei por alguns instantes e na verdade não saberia o que dizer. Eu ainda tinha tantas coisas que queria perguntar, porém não queria passar meu primeiro dia de seu retorno fazendo perguntas como uma criança que não sabe de nada. Então pensei um pouco mais e decidi que deixaria que ele escolhesse o que não era uma tarefa fácil, pois ele nunca se decidia de nada em todos os anos que ficamos juntos. Mas tive uma intuição de que naquele dia seria diferente.
- Hoje eu deixo você decidir amor, não estou com cabeça para atividades “extracurriculares”.
- Hahaha. – A risada dele foi estridente eu não me contive de rir junto.
- Pois é, considerando que nessa manhã tive um principio de aula sobre anjos, demônios e Deus. Pois é, não falamos dele, mas eu também não quero saber agora sobre isso vamos deixar para a próxima aula a noite.
- Hmm, é uma boa idéia Cléo. Vamos almoçar então naquele restaurante que você gosta e depois te levarei em alguns lugares e te contarei algumas histórias que serão interessantes para você.
- É claro, eu deixo você decidir e é isso que vamos fazer. Passeios turísticos. Ok, não irei reclamar prometo.
- Então se enquanto estivermos passeando você se chatear, decidimos outra coisa para fazer ok?
- Ok.
  Beijei-o nos lábios de leve e me levantei para me arrumar para o nosso passeio. Parei uns segundos para ver seu corpo deitado sobre a cama e me encantei com seu olhar, me perdi naqueles olhos e fiquei imaginando quantos segredos ainda existiam dentro deles. Escolhi uma roupa que eu sabia que Nariel gostava, uma blusa branca frente única com babados em volta, um shorts preto de cetim e um chinelo delicado com um laço rosa na parte de cima. Ele ficou me observando sem dizer uma única palavra, cheguei a notar sua respiração alterar, exatamente como oito meses atrás quando ele teve de ir embora. Seu olhar era como um profundo oceano de tristeza, mas porque ele estava triste? O que havia de errado, estávamos juntos novamente e nada poderia impedir-nos, ou havia algo? Comecei a duvidar de que realmente havia algo errado.

*neste ponto a história é contada a partir do ponto de vista de Nariel, porém é a mesma parte :)

  Ela estava lá, vestindo a minha roupa preferida, é claro que ela ainda lembrava de qual era e fazia propositalmente em usá-la. Eu queria poder já ter contado a ela, sobre o porquê de ter desaparecido oito meses e ainda mais, precisava achar forças para fazer o que era necessário. Minhas ordens haviam sido claras e bem, eu tinha encontrado um jeito de burlá-las não por completo mas de uma forma que seria melhor para mim e para ela. Larguei de meus devaneios e ela estava parada diante de mim com aquele olhar de reprimenda pois eu já havia demorado demais na cama e ela estava pronta e incrivelmente linda.
- Você está estonteante sabia?
- Não me venha com esses seus jogos de sedução, vá se arrumar já.
- Ok, mandona.
- Como é?!
- Minha mandona, eu sempre gostei desse seu jeito tempestivo. Já vou me arrumar, me dê quinze minutos e estarei pronto.
- Quinze minutos!
 Não quis contrariar seu jeito reativo de ser e pulei para fora da cama tomar um banho e me vestir. Minha mente rodava e eu estava tremendamente aleatório a qualquer outra coisa, sim eu estava prestando atenção nela e em tudo que ela me dizia, em cada respiração dela, em cada movimento que produzia e isso me arrasava mais por dentro. Cléo já havia notado meu olhar de tristeza, disso eu tinha certeza afinal da mesma maneira que ela me conhecia eu a conhecia. Terminei de me arrumar antes ainda do tempo que havia prometido me aprontar, e ela ficou feliz com isso eu pude notar quão ansiosa ela estava para sairmos e sermos apenas um casal feliz sem segredos obscuros, eu também queria ter toda essa ansiedade, mas me restava pouco tempo perto dela e eu queria poder aproveitar ao máximo. Fomos comer e ela saltitava como uma criança na véspera de natal estava contente, eu a estava deixando feliz e isso me traria conforto, pois tempos muito difíceis estariam por vir. Depois de comer eu a levei a uma paróquia pequena da cidade, ela não entendeu muito porque, adentramos na pequena construção e ficamos em silêncio observando.
 - Isso tudo é real? – sua voz trazia muita cautela.
- O que especificamente você que saber?
- Céu, inferno, uma vida apenas, Deus, Diabo.
- São muitas coisas para pouco tempo.
- Eu tenho toda minha vida para saber se você quiser.
 Aquilo me apertou o coração e eu não saberia mais esconder a verdade dela.
- Cléo, você quer saber onde eu fui durante esses oito meses?
- É claro.
- Eu fui ao inferno.
- O que?! – seu olhar estava fixo em mim, eu tinha pegado uma rota sem volta e a partir dali as coisas tomariam um rumo, muito, mas muito ruim.
- Eu precisava fazer um trato.
- Tipo aqueles de filmes?
- Mais ou menos. É um pouco mais complicado que isso. Vem cá quero te mostrar algo.
 Eu a peguei pela mão e a puxei para uma pequena escada interna que havia ali, e que subia para o telhado da paróquia. Ela estava desconfiada, e sua necessidade de saber mais era tão intensa que ela sequer conseguia esconder. Nos sentamos no telhado, o sol estava brilhando no céu azul, em cores límpidas e lindas seus raios iluminavam da maneira mais linda que poderiam.
- Não é fácil dizer o que eu preciso te explicar agora Cléo. E você não poderá fugir disso, de maneira alguma.
- Nariel você está me assustando.
- Eu fui ao inferno negociar sobre você.
- ÃHN? Você está brincando comigo não é?
- Não. Lembra quando eu lhe disse que nós anjos recebíamos missões? Então, oito meses atrás eu recebi a minha – meus braços se estreitaram em volta do corpo dela- você.
- Como assim eu?! E se eu era sua missão porque você teve de ir embora? Porque teve de ir ao inferno negociar, Nariel eu quero saber agora!
- Cléo você nasceu na sexta lua cheia do ano, e a soma do dia e mês do seu aniversário resultam no numero seis, e bem amanhã você completará 24 anos é mais ou menos como uma conta matemática.
- Não entendo o que isso tudo tem a ver?
- Amanhã é a sexta lua do ano, isso fecha quatro números seis. As duas ‘sextas luas’, a data do seu aniversario e a soma dos anos que você está fazendo.
- Você esta querendo dizer que eu tenho uma relação com o diabo? Não deveriam então ser apenas três números seis?
- Não. Quatro deles significam que você foi ‘marcada’ ao nascer para que fosse um instrumento dele, e não ele em pessoa. Compreende? Três números marcam a presença do Demônio e quatro deles uma predestinação. E a sua, bem, não está das melhores.
- Você está querendo dizer que eu vou ser possuída?
- O termo correto não é esse, mas digamos que sim.
- Bela piada de mau gosto.
- Você pode prestar atenção no que eu falo?!
  Já não estávamos mais abraçados como antes e a conversa tinha demorado mais do que eu imaginava e o sol já estava baixando. Era quase noite, e eu tinha que fazer tudo exatamente quando batesse 00h01min, liberei minhas asas e a peguei pela mão, ela estava com medo de mim eu podia ver em seus olhos, porém ela se abraçou a mim.
- Vamos para casa.
Ela apenas concordou com um aceno de cabeça e eu alcei vôo e fomos em direção a “nossa” casa. Não trocamos uma palavra no caminho, eu apenas a deixei pensar nas coisas que eu havia contado. Chegamos e ficamos na varanda da casa, era um lugar afastado e não havia ninguém por perto, então não me preocupei e deixei minhas asas de fora.
- Nariel, você foi negociar minha alma com o demônio?
- Como...
- Eu não sou tão inocente quanto você pensa, quando eu tinha treze anos tinha visões de coisas ruins antes de elas acontecerem. Eu tinha medo, muito medo, e meus pais me internaram em uma clínica de “repouso” digamos assim e eu pesquisei sobre todas essas coisas sobrenaturais, e quando eu completei quatorze anos e as visões pararam eu achei que não tinha mais nada e estava curada. E simplesmente quis esquecer o que havia aprendido sobre o diabo e suas artimanhas.
- Você nunca me contou isso.
- Como eu acabei de dizer, eu quis esquecer. Mas coisas assim nunca nos abandonam. Não é mesmo?
- Cléo, a missão que me foi dada pelos arcanjos é de entregar sua alma.
- Bem então faça-o.
- Eu não posso, pois eles a dissipariam. Uma alma entregue aos arcanjos é transformada em força divina para eles. E jamais pode ser reconstituída.
- Ah o inferno. Tinha me esquecido disso.
- Meu amor por você é maior do que qualquer coisa em todos os meus milênios de existência.
 Ficamos em silêncio, vendo o sol se por. Ela não havia pronunciado uma palavra sequer desde a minha ultima frase e isso me deixava intrigado, eu jamais poderia imaginar o que se passava na mente dela. E o que eu poderia fazer para tentar desvendar. Eu não me movia e nem ela. Faziam horas que estávamos ali, mas eu queria que ela quebrasse o silencio. E assim ela o fez.
- Nariel, me conte como termina a história.
- Cléo eu...
- Vamos me conte, eu descobrirei de um jeito ou de outro.
- Bem, eu sou um anjo um guerreiro e, portanto minha essência é pura e forte o suficiente para fortalecer o reinado de um arcanjo caído, pois os que ainda permanecem no éden não necessitam de essência vital para se manterem vivos eles o recebem da força maior diretamente. Fui até lúcifer e prometi-lhe a minha essência em troca da sua alma livre de escravidão e livre do predomínio do inferno. Ele disse que o faria, mas que eu teria uma conseqüência.
- Estou ouvindo.
- Sua alma tem de ser entregue no primeiro minuto do dia da sexta lua cheia. E então converteremos nossas energias e você irá para onde a minha essência iria depois da minha vida carnal. E eu terei o seu destino cravado em mim.
- Você jamais deveria ter feito isso Nariel! Você é um guerreiro dos céus e não um mortal inútil.
  Ela havia entendido o que eu faria, mas o que me assustou é que ela sabia que não poderia fugir disso e mesmo assim se preocupava comigo e com o que eu havia feito. Como ela podia dizer isso? Ou se preocupar comigo? Eu a amava mais do que a mim mesmo e jamais faria algo diferente do que havia feito.
- Nariel, olhe para mim! Você não poderá fazer isso, eu quero ser levada aos arcanjos, eu quero você vivo. Eu faço o que for preciso.
 O relógio começou a soar a primeira badalada. Era meia noite, não!
- Cléo, não tem mais volta me perdoe, por favor. Minhas asas estão marcadas e eu jamais entraria no céu novamente com elas.
- Você não devia ter feito isso, meu amor, meu anjo, meu protetor, você não devia.
Seus lábios foram de encontro aos meus, e eu coloquei minha mão sobre seu coração e senti sua alma vibrando, estava chegando à hora.
- Nariel, você jamais deveria ter trocado a sua paz e seu paraíso eterno por mim.
- Cléo, meu paraíso seria um inferno sem você. Pois afinal você foi o meu pedaço do paraíso. Descanse eterna e pura, até que céu e inferno se unam novamente e nos reencontremos.
  Então a hora chegou 00h01min, e nossas almas se dissiparam. A mulher que eu havia amado e que havia me mostrado o verdadeiro paraíso iria conhecer o que os anjos chamavam de éden.

                                                                  FIM 

Beijos 
Natália Moraes Costa

3 de jan. de 2011

"Meu Pedaço do Paraíso" / parteIII

Terceira parte da minha fic e espero que quem está lendo esteja gostando. Eu to tentando caprichar, mas como é minha prmeira fic deem um desconto ok?! Enfim galera eu juro que estou tentando terminar ela agora na quarta parte e por isso a quarta vai ser meio grandinha mas nada exagerado.Bom aproveitem a leitura.

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Então a longa história começou e eu estava concentrada e preparada para tudo que eu pudesse ouvir naqueles momentos que se seguiriam.


 - Há muitos anos quando Lúcifer um dos arcanjos de Deus “caiu” a força maior decidiu que eram necessários mais anjos e não apenas os sete, que haviam se tornado seis.  Então foi criada uma forma de hierarquia angelical no plano astral. Existem os arcanjos, serafins, querubins, e muitas outras classes, porém as principais são essas que mencionei. Todas as classes com exceção dos arcanjos tem a permissão de se projetar no plano terrestre e tomar a forma de seu avatar mortal, não podemos mostrar nossas asas para todos os humanos apenas para os escolhidos e elas só aparecem à noite. Pois é muito mais fácil esconde-las.
- O que você quer dizer com escolhidos? – Meu coração pulsava loucamente, parecia que eu havia adentrado numa história mitológica antiga e não conseguia assimilar muito bem tudo que estava acontecendo, então ele continuou.
- Essa é uma questão delicada, deixe-me explicar mais a você sobre todo o resto e ficará mais fácil.
- Acredito que essa história será mais longa do que imaginei, podemos nos deitar na cama e ficarmos mais confortáveis o que você acha?
- Como você preferir Cléo.
Nos dirigimos ao quarto e nos deitamos, ele tocou meus lábios suavemente com os dele e falou.
- Posso continuar?
- É claro me desculpe. – Sorri envergonhada por ter atrapalhado uma história tão complexa.
- Mas se você sentir vontade de fazer perguntas as faça, eu não me importarei com isso. Bem como eu estava falando, nós anjos assumimos os avatares mortais, e praticamente nos tornamos humanos, sentimos tudo que vocês sentem e temos as mesmas necessidades. A diferença é que possuímos asas e nos projetamos ao plano astral, claro algumas coisas são diferentes. Vocês humanos chamariam de super-poderes, temos um sexto sentido aguçadíssimo, força e velocidade maiores.
- Mas você pode morrer, aqui, agora?
- Sim.
- Mas de que adiantam os poderes então?
- Eles tornam mais fácil escapar de situações em que poderíamos perder nosso avatar.  De maneira que apenas não nascemos. Porém envelhecemos e morremos naturalmente.
- Não compreendo muito bem, e como vocês fazem para ter um nome, trabalho e essas coisas todas se vocês não nascem?
- Deus nos colocou aqui como guardiões, e protetores da vontade dele. E podemos criar em nossas mentes e transformar as coisas. Por exemplo, eu posso pegar um pedaço de papel aqui e criar uma carteira de motorista para mim como eu já fiz e possuo, e dentre isso estão todas as coisas que os humanos necessitam para serem “cidadãos”.
  Ele fez sinal de aspas quando falava essa palavra, como se fosse algo engraçado. Eu ri com o gesto e me senti mais tranqüila a história até agora não tinha nada de tão extraordinário.
- Bem que eu sempre desconfiei da história de “eu sou adotado, e meus pais morreram e não tenho mais contato com a família adotiva.” Era bem fantasiosa mas eu acreditei nela.
- E não é mentira, nós querubins podemos viemos ao mundo como bebês disfarçados por assim dizer, é angustiante ter a mente de um anjo e saber tudo que acontece estando no corpo de uma criança. Essa é toda a piada e a maldição da nossa vida corpórea.
- Como assim?
- Quando um anjo de qualquer classe decide vir a terra ele vêm com a sua mente eternizada e seu espírito de anjo, sabendo tudo que se passa, como posso lhe explicar de uma maneira que você entenda ...
- Eu acho que entendi, você quer dizer que tinha o mesmo conhecimento e a mesma compreensão de mundo que tem agora, mesmo quando era um bebê.
- Isso mesmo, essa é a minha garota, prestando atenção a todos os detalhes não é mesmo?!
- Sempre. Mas e como vocês surgem na terra?
- Nos materializamos em portas de orfanatos, porém sempre que viemos já existe uma família predestinada para nós. Como o destino de todos os humanos cruéis já está traçado, sempre somos adotados por pessoas que em treze anos irão morrer.
- O que?!
- Não faça essa cara de espanto, todos morremos um dia. Então, quando completamos os treze anos nossa família adotiva morre por algum motivo natural ou acidente. O que já estava escrito para ela. E apenas usamos o tempo restante delas para tentar salva-las entende? Fazer com que se arrependam e escolham o caminho do bem antes do fim. Por isso somos chamados de guerreiros ou protetores.
- Então é por isso que vocês vêem a terra, ou plano terrestre ou sei lá como vocês chamam?
- Essa é nossa missão obrigatória quando crianças e jovens, mas outras missões são nos dadas à medida que crescemos e nossa responsabilidade se torna maior.
- E que tipos de missões são concedidas a vocês?!
- Nós querubins normalmente assumimos o papel de protetores dos humanos, isso inclui destruir anti-cristos, feiticeiros, demônios, espíritos mal intencionados e qualquer coisa que venha a interferir ou devastar a fé dos homens.
- Acho que entendi toda essa coisa, mas tem algo que está me deixando com minhocas na cabeça.
- O que? – Ele perguntou com um sorriso travesso nos lábios, como se soubesse o que eu iria perguntar, seu hálito doce preencheu todo o meu sistema e minha mente deu um blackout, eu sabia o que queria perguntar, mas minha mente simplesmente esqueceu de como mandar o comando ate minha boca, e de repente ele estava em cima de mim, seu calor irradiando e quase queimando minha pele. O sorriso travesso ainda estava lá no rosto perfeito dele, seus olhos brilhavam como pérolas no fundo do mar, porém tinham uma ponta de tristeza e eu não compreendia o porque disso, mas não me importei pois o meu Nariel, meu anjo de asas negras, estava lá como sempre havia sido. Fiz uma nota mental de perguntar se todos os anjos possuíam as asas negras, e depois disso deixei que o corpo e as emoções me levassem.

Beijos 
Natália Moraes Costa

"Meu Pedaço do Paraíso" / parteII

Continuação da história de Cléo e Nariel, sei que havia dito que esse já seria o final porém planejei algo maior e mais elaborado que já está com outra parte pronta, espero que curtam muito,  :)


Estávamos deitados sobre o tapete em frente à lareira, não que fizesse frio naquele início de manhã, mas havíamos concordado em ligá-la. Meu novo cobertor era lindo e muito quente, um par de asas que envolviam todo o meu corpo nu deixando apenas parte das pernas de fora. Eu sentia o coração dele batendo junto ao meu, sua respiração um pouco ofegante, enfim consegui falar:
- Nariel, isso é um sonho?
- Meu amor como você é boba às vezes – meu ritmo cardíaco falhou quando eu ouvi a forma com a qual ele se referiu a mim.
- Eu sonhei isso tantas vezes, eu sentia sua presença tão próxima de mim que, ah é claro sem essa coisa toda de asas e bem, é confuso te ter aqui e estar em seus braços.
- Você preferiria que fosse um sonho?
- É claro que não, não fale tolices. É que eu ainda preciso entender, e acreditar que você é um anjo. Ou não, você é um anjo certo?
- Hum, algo do gênero eu diria.
- E eu vou poder entender a que gênero você se refere?
- Isso eu ainda não sei.
 Aquele começo de conversa me deixou tremendamente preocupada, nunca houve segredos entre nós, bem eu estava errada, afinal ele era um anjo e eu não sabia disso até a presente data.
- Cléo.
- Hum?
- Você acredita em paraíso e inferno?
-Porque você perguntaria isso para mim? Afinal eu sou uma simples mortal, e quem deveria fazer essa questão sou eu. Mas se você quer mesmo saber se acredito nesta coisa toda, bem eu não acredito. Apesar de estar envolta em asas negras e macias do que eu acredito ser um anjo, a idéia não me atrai.
  Até aquele momento eu não havia me dado conta de que as asas dele eram negras, mas acho que isso não faria diferença. Ele caiu novamente em seu silêncio e eu achei melhor não quebra-lo mais uma vez, então fiz uma menção de que iria me levantar e sua asa e seu braço que estavam envoltos em mim se apertaram, como se quisesse dizer que eu não deveria me mover um centímetro.
- Você quer alguma coisa? – a voz dele parecia triste
- Não, eu estou bem, apenas...
- Apenas?!
- Eu não sei, ia fazer algo para comermos, já são quase oito horas. Você ainda come né?
   Ele riu com a pergunta e eu não pude evitar de rir junto, a presença dele fez com que o tempo em que ele permaneceu longe ficassem tão enterrados no passado que até parecia que ele nunca havia partido. Então ele me soltou e deixou que eu levantasse e me vestisse, eu havia fechado as cortinas de toda a casa antes que nos deitássemos juntos sobre o tapete, achei que seria uma boa opção abri-las novamente para que o sol adentrasse dentro de casa, ao fazer isso olhei com um sorriso para Nariel e quando o primeiro feixe de luz tocou seu corpo suas asas simplesmente desapareceram. Eu fui abrir minha boca para perguntar o que havia acontecido e no mesmo segundo desisti. Ele me explicaria depois junto com toda essa coisa anjo não anjo.
- O que você quer comer algo em especial que eu possa fazer?
- Eu acho que apreciaria um suco e um bom sanduíche, mas daqueles que só você sabe fazer! – a ênfase da segunda parte foi maior e mais animada. -
- Acho que tenho os ingredientes que você gosta aqui ainda.
- Vou me vestir você ainda tem aquelas roupas que eu deixei aqui?
- É claro, elas estão exatamente no mesmo lugar, mas isso eu acho que você já sabe não é?!
- Sim eu já imaginava.
Passaram-se alguns bons minutos e ele não havia retornado, e eu não ouvia um único som vindo do quarto. Larguei os alimentos em cima da mesa e me dirigi ao quarto, quando cheguei próxima da porta ouvi sua respiração pesada e como se algo o tivesse incomodando, preferi não incomodar o que quer que fosse que o estivesse deixando assim me virei para voltar à cozinha e meio segundo depois senti seus braços a minha volta.
- Desistiu de me fazer o café da manhã?
- Apenas achei que você estivesse demorando, pensei que não estava encontrando suas coisas.   
- Eu as encontrei exatamente como deixei, obrigado.
- Não há porque agradecer.
- Cléo precisamos conversar, e não sei direito como começar a explicar o que me trouxe de volta.
- Achei que tivesse voltado por mim.
- Sim, não. Bem é muito mais complicado que isso e espero que você me entenda.
- Eu irei entender se você me explicar Nariel. Chega de rodeios, e de meias palavra eu quero a verdade e toda ela agora. Esperei oito meses, sofri todo esse tempo sem entender porque você partiu. É chegada à hora em que as asas que eu vi ontem à noite tomem seu lugar na história me entende?
- Sim eu entendo. Podemos apenas comer primeiro, e enquanto fazemos isso eu começo a lhe explicar a história.
- Eu mal posso esperar para ouvir.
   Ele apenas sorriu com as minhas palavras, mas não era um sorriso engraçado. Ele era irônico, e esse lado de Nariel eu ainda não conhecia e estava começando a me preocupar. Nos sentamos à mesa e comemos em silêncio, até que o som da voz dele preencheu toda a casa.
  - Você tem certeza de que quer ouvir? E que esta pronta para aceitar e principalmente acreditar no que eu vou lhe dizer?
- Quanto à questão do acreditar eu não garanto muita coisa, mas acho que as suas asas já abriram muitos caminhos na minha mente.


[continua ...]
Beijos
Natália Moraes Costa